Faz tempo que o cineasta Luc
Besson deixou de aspirar às grandes produções, seu último projeto “mainstrean”
foi Joana d´Arc, no cada vez mais distante ano de 1999. Um trabalho que
considero, no mínimo, um bom entretenimento, mas que ganhou ferrenhas e inflamadas
críticas negativas na época de seu lançamento. Parece que o envolvimento com o
esquema dos grandes estúdios aborreceu Besson (ou então acomodou ou desgastou,
não sei...), porque na década seguinte, o sujeito dedicou-se apenas a dirigir
filmes despretensiosos (como a serie animada Arthur e os Minimoys) e exercitar
cada vez mais seu lado produtor em obras que pudessem arrecadar alguns trocados
nas bilheterias.
Vale lembrar que o hoje pouco conhecido
diretor, realizou filmes que chegam bem perto de serem chamados de
obras-primas, principalmente Imensidão Azul de 1988 e O Profissional de 1994. O
mega sucesso comercial que foi O Quinto Elemento de 1997 chegou a elevar Besson
ao patamar de um dos diretores mais confiáveis do final dos anos 90, isso não é
pouco. Podem até existir exageros sobre o talento de Luc Besson, mas seus
melhores trabalhos não foram simplesmente sorte.
Com Além da Liberdade, sua mais
recente incursão cinematográfica, Luc Besson volta a apostar em um cinema mais
sério, até por tratar de fatos reais e relevantes da recente história mundial.
O filme acompanha a trajetória da ganhadora do Nobel da Paz, a birmanesa Aung
San Suu Kyi (Michelle Yeoh). Ela lutou pacificamente pela democracia em uma
Birmânia tomada por um regime militar e para isso, chegou a passar quinze solitários
anos em prisão domiciliar. O filme foge do trato documental que algumas
produções biográficas vêm ganhando e aposta em uma narrativa tradicional que
consegue envolver o espectador com certa eficiência.
A trama tanto tende a humanizar a
personagem, contando como ela abdicou de sua vida pessoal em prol do
desenvolvimento político de seu combalido país, quanto também traz para Suu
características de uma heroína clássica, nos remetendo até a própria já citada Joana
d´Arc. O diretor não se furta a evidenciar esse heroísmo, criando algumas seqüências
que funcionam apenas para afirmar a personagem como uma possível lenda moderna.
Enquanto vamos acompanhando o envolvimento dela nos problemas birmaneses,
muitas vezes mostrando a violência a qual o povo era infringido, a narrativa
também entrecorta com passagens de sua vida familiar, na qual conhecemos seu
compreensivo marido inglês, o professor de Oxford Michael Aris (David Thewlis),
e seus filhos que vão crescendo sem a presença materna.
Se realmente os fatos aconteceram
da maneira como são mostrados, é mais do que louvável contar o que essa mulher
fez: teve força para enfrentar todo um regime totalitário, unificou um povo
dividido por etnias locais e não retrocedeu quando a pressionaram de todas as
maneiras possíveis para que abandonasse o país. Sua determinação é inspiradora
e a sua história edifica a nobreza que pode residir em um ser humano. No
entanto, se deixarmos de lado esses aspectos de importância histórica e
pensarmos em Além da Liberdade apenas como uma realização cinematográfica, não
será difícil afirmar que ainda não foi dessa vez que Besson voltou a apresentar
uma obra realmente brilhante. O filme é legal, entretém com alguma qualidade,
também existe uma fotografia vistosa e uma trilha sonora agradável, mas não vai
muito além disso.
4 Comente Aqui! :
Preciso conferir este filme Celo.
Gosto muito dos filmes do Besson, inclusive o subestimado Joana d´Arc, que foi mesmo uma superprodução de tirar o fôlego. Até mesmo a canastrona da Milla Jovovich estava radiante.
Considero "Imensidão Azul" e "O Profissional" obras-primas, porque não? E "O Quinto Elemento" é muito divertido, um tipo de programa que Steven Spielberg não faria diferente. Tem apenas algumas peças sobressalentes como "Subway" que nunca apreciei, mas poxa, tem "Nikita" e "Angel-A" para compensar. Acho corajoso a incursão dele como produtor e nos últimos anos provou que a França também é capaz de produzir filmes de ação como os americanos e de qualidade igualada.
Também adoro a Michelle Yeoh! Uma verdadeira dama.
Abs.
Tanto o diretor quando o tema não me seduzem. Mas caso tenha alguma oportunidade de vê-lo tentarei chegar até o final, apesar de ter quase certeza que acharei o filme chatinho...
Bom saber que ele volta-se assuntos mais relevantes e profundos; Só por isto já me deu vontade de ver. Pena que ele parece não ter alcançado a imensidão que poderia ter sido...
;D
Olá, Celo. Fico imaginando, irmão, como você consegue dividir seus espaço com tanta maestria. Este filme, ainda, não vi. No entanto, o contexto histórico desse tipo de longa, sempre, desperta em mim um interesse. O fato de Luc Besson não ser tão forte como diretor, como você mesmo diz,irei assim tentar conferí-lo. Nunca vi um filme dele, Celo. Tentarei encontrar um espaço para este. Um abraço, irmão. Até...
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