Review de Filme: Incêndios (Incendies,2011)

3 de junho de 2012 0 Comente Aqui!

Não é a toa que Incêndios, produção Canadense dirigida por Denis Villeneuve, ficou meses em cartaz nos cinemas artísticos do RJ. Um filme que merecia mesmo ser visto no cinema, mas ainda assim, para quem perdeu, vale muito a pena conhecer em home-video. Também não é a toa que essa produção tenho sido indicada para vários prêmios, com destaque para a nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2011. A realização de Villeneuve é um filme instigante e de certa forma redentor, com uma narrativa que faz o espectador ficar preso à poltrona. Sem muitas invenções e até em um formato tradicional, mas que da ênfase em trazer uma historia bem contada.

Jeanne Marwan (Melissa Désormeaux-Poulin) e Simon Marwan (Maxim Gaudette) são irmãos gêmeos, descendentes de Libaneses que moram no Canadá. Eles acabaram de perder a mãe, a misteriosa Nawal Marwan (Lubna Azabal). Logo descobrem que Nawal deixou um testamento em que obriga os filhos a procurarem o Pai e o irmão que não conhecem e que se perderam no período de guerra durante os anos 70. Villeneuve poderia até transformar seu trabalho em um filme de guerra, mas foge dos clichês desse tipo de produção e apresenta uma obra em que foca nos motivos que levaram Nawal Marwan ou a Mulher que Canta (como era conhecida nos seus tempos de militância política) esconderem dos gêmeos a historia do pai e do irmão.

O clima investigativo da trama se torna uma emocionante historia de auto-conhecimento dos personagens principais, remontando os momentos turbulentos vividos em um local aonde a religião se mistura com guerra e vice-versa. A historia da mãe é contada de maneira impressionante, em competentes flashbacks. Com isso, vai mostrando um povo que vive eternamente com o sentimento de culpa e vergonha, exaltado pelo desejo de Nawal de ser enterrada sem caixão, de costas e em uma cova sem lapide. Muitos personagens dessas guerras migraram de seus paises, alguns verdadeiros carrascos vivem normalmente no ocidente, enquanto outros que sofreram na mão deles vivem vidas sem sentido, com nomes falsos e famílias que não os entendem.

Incêndios ainda é uma obra com cenas impressionantes, mesmo algumas fortes ou tristes. Destaco a seqüência inicial, ao som de uma canção do Radiohead, como uma das melhores do ano de 2011. Por si só, a abertura já valeria o filme, mas ainda somos marcados por momentos enérgicos, de pessoas e locais em chamas ou as panorâmicas que mostram a geografia acidentada do país, que em muito favorece para a formação de milícias. A trilha sonora, com belas canções melancólicas, imerge o espectador na tristeza das descobertas dos personagens. Um dos bons filmes do século 21 que merece ser visto. Registro de um povo que vive pela emoção, que pena, mas que não deixa de tentar manter sua integridade, mesmo que para isso eles tenham que amargar o sofrimento à vida inteira.



 



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