Clássico Nacional: O Caso dos Irmãos Naves (1967)

11 de junho de 2012 0 Comente Aqui!

Nas décadas de 30 e 40, um crime ficou em evidencia no Brasil. Estamos falando de uma época aonde a violência não era banalizada como hoje. Os meios de comunicação não massificavam tanto o tema com noticias sensacionalistas, até porque tudo era mais lento e menos imediatista. Em muitos aspectos aqueles tempos eram diferentes dos atuais (em muitos, não todos). Em Araguari, uma cidade do interior de Minas Gerais, um homem chamado Benedito some sem deixar rastros. Benedito era sócio de Sebastião Naves (Juca de Oliveira) e Joaquim Naves (Raul Cortez) em um caminhão, transportando cereais. Junto com o homem, também desapareceu uma boa quantia em dinheiro. O ocorrido causa um grande alvoroço na pequena cidade. O que teria acontecido a Benedito? Seu pai não acreditava que ele poderia ter fugido. Benedito era visto como bom homem na sociedade local. Alguns depoimentos parcos aqui, outros desencontrados ali e logo o chefe de policial local, conhecido como Tenente (Anselmo Duarte) chega a uma conclusão: os irmãos Naves mataram Benedito e ficaram com o dinheiro.

Conclusões exatas sobre o que levou rapidamente o Tenente a atestar um latrocínio, de fato, não existiam. Pode ter sido a pressão da opinião pública local ou mesmo a intenção de “mostrar serviço”. Mesmo faltando provas substanciais, o Tenente arranca confissões da dupla de irmãos. Os Naves e suas famílias são coagidos e sofrem terríveis torturas (em cenas cruas e angustiantes). A abordagem usada pelo diretor Luís Sergio Person é distanciada, mas não menos impactante. A narração em off, com um interlocutor nos levando pelos fatos, trás algumas cenas em formato de documento, o que só aumenta a nossa angustia. Essa opção narrativa pode fazer um espectador que desconhece a historia (sim, o filme é baseado em fatos reais) levantar algumas dúvidas. Os Naves realmente teriam matado Benedito? Senão, por que se sujeitaram a assinar confissões e reconstituir o crime? Devemos lembrar que os Naves eram pessoas simples, lavradores. A violência desmedida usada pelo Tenente (os Naves padeceram 38 dias em condições subumanas até confessarem) pode ter tardado, mas não falhou em seu intento. Recém libertada de uma sessão de interrogatórios, muito revoltada, a mãe procura um advogado local. Até ai, ainda existe certa dubiedade dos fatos, mesmo presenciando toda aquela situação.

João Alamy Filho (Jon Hebert) é o nome do advogado que assume o caso. A partir da entrada dele na trama, a narrativa começa a tender ser mais resolutiva. Se antes tínhamos dúvidas, elas agora vão se dissipando. Em sua primeira fala, Alamy cita que o importante é ver a justiça ser cumprida, que em um primeiro momento, a inocência dos irmãos não lhe interessa, mas sim os seus direitos, que em hipótese alguma devem ser feridos. Apesar de abordagens totalmente diferentes, é nesse momento que O Caso dos Irmãos Naves se aproxima do americano O Sol é Para Todos com Gregory Peck. Tanto Alamy, quanto Atticus Finch não mediriam esforços para levar a justiça a pessoas oprimidas. Assim como na já citada obra ianque, o trabalho de Person, em sua segunda metade ganha um ótimo ritmo de “filme de tribunal”, com tensas e emocionantes seqüências dos julgamentos dos irmãos. Os diálogos são precisos, verdadeiros embates, aonde em muitos momentos, a verdade parece ser o menos importante. A atuação de Hebert é empolgante, o seu advogado Alamy é um sujeito que representa a retidão moral dentro daquela sociedade acuada pela mão de ferro de um sujeito inescrupuloso. O Tenente tinha poder para reprimir juizes, manipular cidadões e fazer da lei a sua lei.
                                                                                           
O Caso dos Irmãos Naves é um filme “redondinho”, sem arestas, poderia até render mais digressões. Em sua totalidade, o trabalho de Person parece muito bem cortado, sem excessos narrativos ou bonitos contornos poéticos (aqui, não existe necessidade). O diretor opta de maneira assertiva em mostrar somente o que deve ser contado, focando na ação, mas sem perder o olhar crítico. A intenção é mesmo de relatar e indignar o espectador. As situações retratadas naqueles distantes anos 30 e 40, infelizmente, ainda são muito pertinentes ao nosso sistema judiciário e como a policia ainda faz cumprir a lei. Um filme que pode ser visto como atemporal. A única é ressalva negativa é sobre como uma realização como essa pode ficar esquecida, mal-tratada e sem seu devido respeito. Uma pena.



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