Cinema Francês: Pauline na Praia (Eric Rohmer)

17 de junho de 2012 0 Comente Aqui!

Passar as férias em uma cidade praiana, aos 14 anos, é uma das coisas mais gostosas que podem acontecer na vida de alguém. Digo isso mesmo por experiência. A prepotência da juventude, um sentimento de imortalidade, tudo se amplifica naquelas semanas de descobertas em um local despretensioso e simplório. São momentos inesquecíveis ou únicos que vão ser guardados para uma vida inteira. Esse é o tempo presente de Pauline (Amanda Langlet). Ela está permeando essas circunstancias, aventurando-se por desgarrar-se dos pais, aproveitando ensolarados dias com a ainda jovem e recém-divorciada prima, a bela e sensual Marion (Arielle Dombasle). Em uma bucólica casinha de veraneio elas discutem e divagam sobre o amor e a vida. Claro que os romances praianos não tardam. Para Pauline, um garoto tão simpático como ela. Pelos carinhos de Marion surge uma disputa entre um ex-namorado e um sujeito boa praça, mas cheio de manhas, que logo colocará todos em uma ciranda de mentiras e confusões.   

Bem, até por essa premissa inicial, pode-se prever um filme sobre adolescência e ritos de passagens mais do que tradicional. Porém, Pauline na Praia passa longe de ser algo apenas trivial. O trato do diretor francês Eric Rohmer é mais do que especial, mesmo em uma obra que não foge de sua simplicidade. Rohmer, que acumula a direção e o roteiro, é um cineasta que prima pelos belos diálogos, contestadores, sintetizando ufanias, utopias e ainda assim busca pelo racional, criando assim verdadeiros e emocionantes embates verbais. A partir deles é que realiza uma obra que vai ganhado o espectador aos poucos. Aquele filme aparentemente lento lhe toma de assalto, e quando menos percebe, está inebriado pelo frescor de uma narrativa tradicional, mas cheia de sentimentos e discussões bem pertinentes ao caráter humano. O trabalho de Rohmer é pouco apegado a grandes construções plásticas, o que lhe interessa são as representações vindas das atuações e a sua historia contada de maneira sutil, mas que causa alguma reflexão.

Então, como uma onda daquele belo balneário, somos levados a acompanhar o cotidiano de Pauline em suas férias. Paralelamente também presenciamos as desventuras de sua prima Marion. Tudo isso sem pudores excessivos. Os corpos nus dos personagens enchem o filme de vivacidade, ainda de uma maneira tão natural que parece que sentimos exalar o cheiro de seus sexos quando os espiamos, junto com a câmera do diretor, em seus momentos mais íntimos. Vemos Pauline e seus 14 anos descobrirem a sexualidade, não de uma maneira que afronte, mas de forma romântica e encantadora. Já com Marion, os momentos são mais quentes e intensos, mas não menos merecedores da nossa inveja e que mesmo invejosos, ainda felizes ficamos por assim contempla-los. Propositalmente, Rohmer traça um comparativo entre os romances das moças. Como tudo uma hora pode ser tão franco e de repente de uma complexidade insolúvel. É a visão de uma jovem “inexperiente” contrastando com a de uma mulher que sofreu em um casamento claustrofóbico, mas que mesmo assim não deixa de sonhar com um amor “que lhe faça pegar fogo”.

Interessante que o olhar que Rohmer joga sobre os flertes e namoros, inicialmente, podem parecer implausíveis. Como uma menina como Pauline poderia ter tantas considerações sensatas? E como Marion, um “mulherão” daqueles, vivida e sedutora, com toda pinta de dominadora, poderia ser tão ingênua? Com o decorrer do filme, percebemos que as digressões não são absurdas, tem e muito seus fundamentos. Envelhecer é inevitável, mas amadurecimento emocional não está condicionado a idade. Fato. Pauline na Praia é uma obra cativante, transcende seus 90 minutos de apreciação e imediatamente cresce na memória afetiva do espectador. Ledo engano de quem julga (como eu fazia) o diretor Eric Rohmer como um intelectualizado e difícil, que realiza filmes para um público extremamente culto. Rohmer é um diretor da vida. Faz obras para quem está assistindo se ver nelas. Faz-nos desejar seus protagonistas e viver com eles as suas histórias, mesmo que para isso tenhamos que sofrer ou até sermos enganados. Amar é assim e a existência é um caminho tortuoso, de bons e maus momentos. Felizmente, todos temos e vivemos os nossos. 




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