Cine Underground: A Casa das Janelas Sorridentes (La casa dalle finestre che ridono, 1976)

5 de junho de 2012 0 Comente Aqui!

Nas minhas pesquisas sobre os giallos e diretores que fizeram esse marcante gênero, como os mestres Mario Bava e Dario Argento, sempre esbarrava nessa obra que recebe a curiosa alcunha de A Casa das Janelas Sorridentes. Considerada por muitos especialistas do cinema de terror italiano como uma de suas melhores realizações, o trabalho do diretor Pupo Avati não é um tradicional clássico “amarelo”, apesar de guardar algumas características pertinentes. Não dá para dizer que transcenda o gênero, mas ainda assim, se apresenta como um competente filme de serial killer e também vale dizer que poucas vezes um assassino foi tratado de forma tão reverencial e artística.

Se a obra de Avati não tem o mesmo esmero visual dos filmes de Argento, apesar de usar tons vistosos de sépia, em compensação, o diretor cria uma trama muito bem embasada. A história começa com um talentoso restaurador que é convidado a uma cidade interiorana e bucólica para renovar um painel de um falecido famoso pintor local: o “pintor da agonia”, assim ele era chamado. Um homem perturbado, com um passado deveras macabro e repleto de mistérios. A Casa das Janelas Sorridentes também não guarda a violência explicita de outras produções italianas da mesma época. Avati cria um clima de suspense permanente, com uma fotografia esmaecida, trilha sonora brilhante (e pontual) e personagens tão estranhos quanto o pintor em questão.

No desenrolar do seu trabalho, o restaurador (representado pelo ótimo ator Lino Capolicchio) desenvolve uma fixação pelo “pintor da agonia”. De curiosidade, passa a admiração e consequentemente, logo ele se vê envolvido em recentes assassinatos que elucidam os trabalhos daquele artista. Reza uma lenda na cidadezinha, que o finado pintor gostava de registrar os modelos em seus momentos derradeiros. Sendo que para isso, suas sinistras irmãs gêmeas providenciavam as vitimas/modelos. Como já citado, o filme é de uma tensão angustiante, e a opção do diretor de demorar a fazer as verdadeiras revelações, deixando muito para o espectador deduzir, torna o clima de mistério perto do insuportável.

Vejo A Casa das Janelas Sorridentes como um suspense/terror psicológico precursor para o gênero moderno. Não tenho dúvidas de que possa ter influenciado uma gama de bons diretores. Principalmente por delinear com profundidade o perfil do assassino e ainda conferir ao mesmo um status de “estrela”. Aqui, o cinema que Avati pratica, parece tão atual ou até mais ousado do que produções mais recentes. Se conferirmos um olhar mais apurado em seus muitos detalhes, podemos também perceber a aproximação com o noir (ainda que subvertido). O epílogo magistral dessa pequena jóia mostra o quanto esse filme deve e merece ser descoberto.




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