Nas minhas pesquisas sobre os giallos
e diretores que fizeram esse marcante gênero, como os mestres Mario Bava e Dario Argento, sempre esbarrava
nessa obra que recebe a curiosa alcunha de A Casa das Janelas Sorridentes. Considerada por muitos
especialistas do cinema de terror italiano como uma de suas melhores
realizações, o trabalho do diretor Pupo
Avati não é um tradicional clássico “amarelo”, apesar de guardar
algumas características pertinentes. Não dá para dizer que transcenda o gênero,
mas ainda assim, se apresenta como um competente filme de serial killer e também vale dizer que poucas vezes um assassino foi
tratado de forma tão reverencial e artística.
Se a obra de Avati não tem o mesmo esmero visual dos filmes de Argento, apesar de usar tons vistosos de
sépia, em compensação, o diretor cria uma trama muito bem embasada. A história
começa com um talentoso restaurador que é convidado a uma cidade interiorana e
bucólica para renovar um painel de um falecido famoso pintor local: o “pintor
da agonia”, assim ele era chamado. Um homem perturbado, com um passado deveras
macabro e repleto de mistérios. A
Casa das Janelas Sorridentes também não guarda a violência explicita
de outras produções italianas da mesma época. Avati cria um clima de suspense permanente, com uma fotografia esmaecida,
trilha sonora brilhante (e pontual) e personagens tão estranhos quanto o pintor
em questão.
No desenrolar do seu trabalho, o
restaurador (representado pelo ótimo ator Lino
Capolicchio) desenvolve uma fixação pelo “pintor da agonia”. De curiosidade,
passa a admiração e consequentemente, logo ele se vê envolvido em recentes assassinatos
que elucidam os trabalhos daquele artista. Reza uma lenda na cidadezinha, que o
finado pintor gostava de registrar os modelos em seus momentos derradeiros. Sendo
que para isso, suas sinistras irmãs gêmeas providenciavam as vitimas/modelos.
Como já citado, o filme é de uma tensão angustiante, e a opção do diretor de
demorar a fazer as verdadeiras revelações, deixando muito para o espectador
deduzir, torna o clima de mistério perto do insuportável.
Vejo A Casa das Janelas Sorridentes
como um suspense/terror psicológico precursor para o gênero moderno. Não tenho
dúvidas de que possa ter influenciado uma gama de bons diretores.
Principalmente por delinear com profundidade o perfil do assassino e ainda
conferir ao mesmo um status de “estrela”. Aqui, o cinema que Avati pratica, parece tão atual ou até
mais ousado do que produções mais recentes. Se conferirmos um olhar mais
apurado em seus muitos detalhes, podemos também perceber a aproximação com o noir (ainda que subvertido). O epílogo magistral dessa pequena jóia
mostra o quanto esse filme deve e merece ser descoberto.
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