Crítica: O Poderoso Chefão ( The Godfather)

15 de maio de 2012 3 Comente Aqui!

Desde que montei o Blog, há 2 anos atrás, penso em quando seria o momento exato de escrever sobre O Poderoso Chefão. Perdi a grande oportunidade de fazer um especial no dia em que o primeiro filme completaria 40 anos de vida, em 15 de março deste ano, mas depois de algumas revisitas ao passado, acredito que este seja o melhor momento de encarar o desafio de falar sobre este, que deve ser se uns dos maiores e melhores longas de todos os tempos.

Em 1972 ninguém poderia imaginar que, 40 anos depois, as pessoas ainda idolatrariam essa produção, principalmente por que tudo ao seu redor não parecia empolgante. Para começo de conversa, ninguém levava muita fé em um diretor de meros 33 anos, que iria adaptar uma grande história. Outro receio da época era quanto a capacidade de Al Pacino, que estava apenas começando a carreira e não era nem de perto o favorito do estúdio, que cogitava nomes como Jack Nicholson ou Dustin Hoffman, mais famosos no começo dos anos setenta.

A trama, que como já disse, é baseada numa história, e roteiro, de Mario Puzo, tem como foco principal a máfia dos anos quarenta sendo retratada em vista da família Corleone. Vito Corleone era considerado o Padrinho e era o chefe da família que possuía grande parte dos negócios ilegais da cidade de Nova York. É através de seus atos e pensamentos que iremos entender como pensavam os mafiosos no período e quais eram seus meios de atuação. A reputação de Vito era impecável e todos sabiam de sua inteligencia e ombridade. Ele era um homem de palavra, que costumava oferecer favores em troca de apoio em uma futura necessidade. Dessa forma ele tinha nas mãos grande políticos e policiais importantes, o que lhe tornava um dos mafiosos mais poderosos de todos.

A questão é que com o passar dos anos, outras famílias se mostrariam interessadas em sair do ramo do "jogo" para o mundo das drogas. Os visionários da época, que existem até nos dias de hoje, viam no tráfico uma grande chance de enriquecer, porém não receberam nenhum apoio dos Corleones. Vito atuou contra essa iniciativa e terminou enraivecendo aqueles que futuramente seriam os responsáveis por diversos atentados à sua família. Os filhos de Don Corleone então precisaram se envolver para tentar ajudar no mantimento da honra de todos. Nesse momento, começa a se desenhar um jogo de interesses muito interessante, motivado pelas ações de Sonny, filho de Vito, que seria naturalmente seu sucessor e de Michael, herói da segunda guerra, que não queria se envolver nos assuntos da família, mas que termina envolvido para ajudar o pai.

Olhando friamente parece que estamos diante de algo simples, mas a grande verdade é que algo épico sairia dessa sinopse. A primeira coisa a se saber é que para entender o filme por completo precisa pensar de certa forma como um mafioso, que não mistura negócios com nada pessoal. Encarnar um personagem seria a melhor forma de compreender as atitudes de muitos envolvidos. Isso parece até ser impossível, mas não é devido a uma direção minuciosa de Francis Ford Coppola e um mundos de cenas clássicas que ficarão marcadas para a eternidade.

Todo o trabalho técnico é majestoso e para não me alongar mais ainda vou dar curtos exemplos de como ambos os aspectos fazem deste um dos melhores longas de todos os tempos. O trabalho de fotografia é incrível e é retratado nas imagens escuras que envolvem as "armações" do universo em questão. O mundo é escuro e assustador, mas mesmo assim vivo em cores em momentos de alegria. O figurino é outro ponto muito marcante. Podemos perceber o trabalho apurado dos envolvidos quando vemos um Michael distante e com roupas de vestimento destoantes de todos os outros. Seu personagem mostrava nitidamente que não queria se envolver com a máfia, mas com o passar do tempo e com os acontecimentos em questão sua vestimenta foi se tornando clássica e escura, o que representava sua adesão ao sistema. Outro ponto chave é a flor vermelha no bolso de Vito, que lhe fazia destoar e ser o centro das atenções no meio de todos.

A trilha sonora além de muito bonita é marcante e enriquece demais os acontecimentos. Músicas tipicamente italianas vão tomando conta da produção e ganhando seu destaque. O ponto alto da trilha vem na cena memorável do assassinato do chefe de policia e seu parceiro. A tensão em torno de tudo somado aos acordes nos rendeu uma cena épica. O trabalho de maquiagem é outro ponto incrível que serve de alicerce para a evolução do longa e principalmente passagem do tempo. Percebam como logo no começo temos um Vito jovial e seguro de si, mas que com o passar do tempo foi apresentando madeixas brancas. Com tudo isso minuciosamente detalhado impossível não dizer que a direção de arte se destaca e se mostra impecável, focando nas imagens da época e até mesmo no simples modo de pentear os cabelos dos personagens.

No tema de atuações, impossível não dizer que Al Pacino é incrível e superou expectativas. Seu personagem é construído de forma perfeita e seus semblante e até mesmo jeito de falar muda conforme  as mudanças de personalidade vão acontecendo. Marlon Brando dispensa comentários e entrega um personagem cativante, seguro de si e exemplar. Seus gestos e formas de se expressar são magníficas! Todos os outros envolvidos estão muito bem, mas gostaria de ter citado o destoamento dos dois acima. São atuações grandiosas e eternas. Destaco ainda as boas atuações de Robert Duvall e James Caan, mas não posso comparar com as já citadas.

Posso não ter feito uma crítica ao ponto que este longa mereça, mas espero que tenha expressado todo meu amor pelo filme. Esse é um daqueles longas que todo mundo deve ver e revisitar. A riqueza de detalhes é imensa e sua composição é uma das melhores de todos os tempos.Um filme verdadeiro, violento e que não poupa derramamento de sangue. O longa foi indicado a 11 Oscar e venceu somente 3, o que mostra a qualidade dos longas do passado. Os prêmios foram o de Melhor Ator, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.


Trailer do Filme:












3 Comente Aqui! :

  • Júlio Pereira disse...

    Nunca me arrisquei a escrever sobre O Poderoso Chefão. Nem vou me arriscar por uns bons 20 anos. Acho que a cada vez que revejo percebo novos detalhes e qualidades. É uma obra-prima complexa e um épico americano. Me abstendo a questões técnicas, O Poderoso Chefão é um belo estudo de personagem, da família Corleone e de todo o mundo da máfia. Na verdade, até Marlon Brando, ator já respeitado na época, foi recusado pela Warner, que não queria um cara cheio de problemas (na época, ele estava com problemas de bebidas e etc). Entretanto, a escolha não podia ser mais certa: o personagem é o mais icônico da obra - embora não seja o protagonista - e um marco na cultura pop. A trila sonora de Ennio Morricone é linda, e a música tema ressoa constantemente na minha cabeça!

  • Zé Felipe Sá disse...

    Na verdade a trilha é de Nino Rota, conhecido pela sua parceria com Federico Fellini e por musicar "Romeu e Julieta" (1968) de Franco Zeffirelli. Uma curiosidade: Rota deixou de ganhar o Oscar pela trilha do primeiro "Poderoso Chefão" porque ingenuamente admitiu que ele tinha reciclado alguns de seus próprios temas... O que é bastante irônico, considerando o caso de "O Artista" (2011), onde Ludovic Bource, o compositor do filme, copiou descaradamente zilhões de compositores da Era de Ouro hollywoodiana (um tributo? uma "homenagem"?) e mesmo assim saiu "Oscarizado" da festa...

    A Academia depois se "corrigiu" dando o Oscar à Nino por "O Poderoso Chefão II" (1974), no processo atropelando "Chinatown" de Jerry Goldsmith - hoje considerada uma das melhores (senão a melhor) trilhas sonoras já feitas. Politicagens do Oscar...

 
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