Os executivos de cinema
brasileiro, cada vez mais, parecem apostar em filmes que apontem para um
retorno certo. Em tempos que os riscos são estudados por especialistas, não é
estranho que certos filmes que outrora teriam lugar certo na telona estão sendo
deixados de lado em detrimento a opções mais viáveis e seguras. Poderia até
citar bons filmes que recentemente nem viram a sala escura e foram direto para home-video, mas não vamos tirar o foco
de Contrabando,
que é o filme aqui em questão. Freqüentador assíduo que sou de cinema, me
deparei algumas vezes com o pôster desse filme por ai. Não dá para dizer que
tinha ansiedade em conferi-lo, mas como também sou um apreciador confesso de
filmes de ação e policiais, mal não faria em conferir esse na telona. Quando
descobri que seu destino seria o DVD, não titubeei e peguei logo para assistir
uma “cópia de serviço”.
Infelizmente, a realização do
diretor Islandês Baltasar Kormákur
(estreante em Hollywood) fica aquém do esperado e é até compreensível que tenha
sido desprestigiada. O filme é confuso ou mesmo mal montado, algumas seqüências
fazem pouco sentido, mas vai lá, normalmente não se pode esperar mais do que
entretenimento em um filme de ação. Ressalva: entreter com qualidade é trabalho
difícil e quando bem feito, deve ser mais do que louvado. Existe uma clara
intenção aqui de não se fazer apenas cinema de gênero, há outras aspirações,
pelo menos por parte do diretor. Será que Kormákur
queria dar uma visão autoral para a sua realização? Bem, percebe-se até algum
apreço relativo a isso, mas não da para dizer que seja evidente. Visualmente, o
filme é vistoso, com uma fotografia de tons azuis, que talvez surja assim para
exaltar algum tipo de melancolia dos personagens, mas como a trama é delineada,
o brilhantismo estético acaba por ter a força diluída. A obra tem muito de thrillers de ação/suspense mais recentes
e também aponta para um tipo de ação mais realística.
A afirmação sobre o trabalho de Kórmakur tender para alguma “autoralidade”,
é respectiva ao próprio cinema escandinavo/nórdico, do qual ele é oriundo. Um
tipo de cinema que tem a tendência de mesclar os gêneros, trazendo por vezes,
uma visão pessoal para os fatos. A indústria parece bastante
interessada em absorver esses aspectos, digo isso, porque recentemente tivemos
bons exemplos de obras de sucesso que apostaram nessa visão dos cineastas
“gelados”. Cito rapidamente, Drive,
do dinamarquês Refn e O Espião que Sabia Demais, do sueco Alfredson. Talvez a intenção de Kormákur fosse fazer uma obra que se
assemelha tanto nos aspectos narrativos, quanto nos visuais de seus
conterrâneos. Só que Contrabando, em meio a tantas nuances
e aspirações, carece mesmo é de uma boa historia, ou melhor, de uma história,
mesmo que comum, mas bem contada. Em certo momento, as reviravoltas são tantas,
que aborrecem e distanciam o espectador do que está sendo mostrado.
Na trama, Chris Farraday (Mark Wahlberg) é um ex-contrabandista,
agora pai de família, que precisa voltar à ativa para pagar uma divida que seu
cunhado (Robert Wahlberg) contraiu com um gangster local (Giovani Ribisi). Logo eles se metem em um navio, com rumo ao
Panamá, aonde visam trazer uma encomenda de dinheiro falso de volta para os
EUA. O filme não demora a se dividir em duas narrativas, na primeira
acompanhamos as peripécias de Chris e um grupo de contrabandistas escolhidos a
dedo por ele e que tem seu ápice em uma tensa negociação com um criminoso
vivido por Diego Luna. Na outra, a
esposa de Chris, interpretada por Kate
Beckinsale precisa se safar das violentas investidas do gangster, que a
pressiona constantemente pela divida do irmão. Nesse meio, ainda temos Abney (um
Ben Foster subutilizado), melhor
amigo de Chris, que fica com a obrigação de cuidar da sua família enquanto ele
está fora.
Tendo um momento interessante
aqui, como uma boa seqüência de perseguição e tiroteio, e outro acolá, em uma
cena em que precisam esconder a mercadoria dentro do navio com o uso guindastes,
mas que não são suficientes para salvar o filme. Contrabando acaba por
ficar mesmo como uma realização genérica e descartável, tão comum à indústria ianque. Diverte até
quanto pode (nos momentos em que pretende ser ação) e entedia (seus personagens
apresentam a profundidade de um pires) quando ousa ser mais séria.
1 Comente Aqui! :
Também não gostei muito do filme.
o diretor não soube fazer um bom filme de ação.
Ótima crítica!
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