Clássico Nacional: Assalto ao Trem Pagador (1962)

30 de maio de 2012 1 Comente Aqui!

Inspirado no famoso roubo ao trem de pagamentos da central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1960, Assalto ao Trem Pagador, em sua primeira cena, deixa explicito que mesmo partindo de uma premissa verdadeira, o filme, é totalmente ficcional. Com liberdade para divagar sobre o assunto e usando de elementos característicos de um cinema de gênero, o diretor Roberto Farias, transforma a historia em um ótimo filme policial (os anos 60 foram prolixos para essas realizações dentro do cinema nacional). Curioso que, apesar do referido assalto ter repercutido ferozmente na imprensa e opinião pública, a trama dirigida por Farias opta por contar os fatos subseqüentes ao crime. O mais certo, talvez, fosse desvendar o planejamento e elaboração, mas de forma louvável, o diretor faz com que o roubo, surja apenas como pano de fundo para os conflitos interiores do grupo de assaltantes.

Acompanhamos a rápida e bem executada seqüência inicial, que consiste no assalto, filmada aos moldes do cinema de western (sim, parece que estamos vendo um roubo saído de um faroeste). Logo após o crime, o grupo de assaltantes, liderados por Tião Medonho (Eliezer Gomes), um assassino cruel, e Grilo (Reginaldo Faria), espécie de mentor intelectual, se reúne para traçar o destino do dinheiro. A decisão em comum, é que nenhum deles poderá usar mais do que 10% do montante destinado a cada (estamos falando de milhões em moeda da época). Inicialmente, conseguem se conter, porque a intenção é não chamar atenção, mas a ambição por utilizar suas pequenas fortunas, fará com que não tardem a quebrar o pacto. Enquanto isso, a policia se movimenta para encontrar os verdadeiros culpados. Detalhe que (assim como na situação real) as autoridades acreditavam que o assalto tivesse sido cometido por criminosos estrangeiros (?). Para a policia, “bandidos da favela” não teriam qualidade intelectual para tramar tão grandioso plano e essa linha de raciocínio fez com que as investigações tardassem e de certa forma dessem confiança ao grupo de um sucesso atingido.

O trabalho do diretor Roberto Farias também tem suas qualidades técnicas, com eficientes tomadas aéreas, focando os personagens como se alguém os observasse de cima em meio a multidão. Farias também utiliza de uma fotografia marginal, crua e que trás o espectador para a realidade das favelas cariocas da época. Apesar de hoje as favelas parecem miseráveis, em comparação com os anos 60, elas estão em uma situação menos deplorável. Saneamento básico passava longe naqueles anos e o diretor não se furta a filmar crianças nuas brincando em valas ao céu aberto. Em comparação, também não deixa de focar no glamour que o dinheiro podia trazer para uma vida cheia de regalias na zona sul carioca. Mesmo Assalto ao Trem Pagador ser um filme de gênero, existe certa critica imbuída na obra. Grilo, apesar de tão criminoso quanto Tião Medonho e seus comparsas, é destituído de suspeitas e livremente usa seu dinheiro como bem entende. A sua justificativa é que ele não tem “cara de pobre” e nesse seu monologo preconceituoso reside uma das cenas mais tensas do filme. Alias, boas seqüências de perseguições e tiroteios são o que não faltam, nos remetendo também aos filmes de gangsteres, principalmente os da era noir do cinema americano.

Apesar de Grilo surgir como um dos expoentes da trama, fazendo contraponto aos criminosos da favela, o filme é mesmo de Tião Medonho. A concepção de Eliezer Gomes para o personagem é das mais marcantes e por que não emocionante? Dentro de uma realização que é levada pela ação, o ator consegue trazer um personagem cheio de facetas. Se em um primeiro momento, Tião é um assassino impiedoso, logo ele se mostra como um marido amoroso (mesmo que infiel) e um pai devotado aos filhos. A obra ainda conta com participações importantes de Grande Otelo, Jorge Dória e Dirce Migliaccio. Assalto ao Trem Pagador é um filme dos mais bem realizados em terra brasilis, merece ser apreciado, revisitado e conhecido. Os anos 60, sem dúvida, foi um dos momentos mais talentosos para o nosso cinema. 




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