Crítica do filme: Xingu (Xingu,2012)

7 de abril de 2012 4 Comente Aqui!

Se houve nesse nosso Brasil varonil quem defendesse o direito dos índios de viverem ao seu jeito, esses foram os irmãos Villas Boas. Desde o embrenhamento pelas matas ainda virgens daquele Brasil dos anos 50 e primeiro contato com inúmeras tribos indígenas, eles logo perceberam que somente mantendo seu habitat e culturas próprias, as nações indígenas poderiam sobreviver dignamente. Desse ponto é que parte essa competente obra dirigida por Cao Hamburger: trazer a devida importância da militância dos Villas Boas para a criação do Parque Indígena do Xingu.

Mesmo Xingu sendo uma realização que se baseia em situações reais, o diretor acerta em apontar para a obra um ritmo de thriller de aventura, mas sem perder o caráter histórico, e assim acaba por cometer uma obra fluida. Logo nos vemos conquistados pelo que está sendo exibido, seja pela eloqüência dos fatos ou mesmo pelo carisma dos envolvidos. O diretor mescla uma historia bem contada a belas e exultantes cenas (algumas me remeteram aos bons westerns). Alias, o trabalho de Cao Hamburger na captação das imagens é dos mais louváveis, fazendo um exímio uso de câmera, que surge fazendo tomadas aéreas de tirar o fôlego ou ainda nas seqüências noturnas, de uma beleza plástica estimável. Bem, na verdade, todo o trabalho de formulação do filme é dos mais elogiáveis, desde a escolha das locações até o trato do elenco indígena, que se porta muito bem em cena e engrandece cada minuto de exibição.

Inevitável não dizer que Xingu tem todos os aspectos de um épico nacional, até porque se meter a explorar uma historia tão grandiosa só poderia gerar uma realização do mesmo porte. O território brasileiro habitado pelos povos indígenas surge como uma nação dentro de outra nação. Em certo momento, um militar diz a Orlando Villas Boas que aquela área que eles demandavam era do tamanho da Bélgica, mas se pensarmos bem se torna quase ínfima comparada à área original que os povos indígenas ocupavam. O diretor não se detém a analisar essas discrepâncias, inserindo como o avanço da modernidade foi providencial para a dizimação de tribos totalmente virgens, como os lendários Kreen-Akarore, que sofreram muito com a construção da transamazônica. Para isso, muitas vezes, o seu trabalho surge cheio de preciosismos, como quando mostra os índios falando em seus dialetos e a dificuldade que era um contato com eles e como os irmãos desenvolveram toda uma técnica de aproximação pacifica.

Os Villas Boas eram mesmo sujeitos destemidos, uma abordagem diferente ou mais incisiva poderia ter sido muito mais prejudicial do que foi a feita por eles. Sim, mesmo com a melhor das intenções, os irmãos também trouxeram sofrimento ao povo indígena e eles tinham essa noção. Os atores escolhidos para viverem Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) Villas Boas dão à credibilidade necessária a Xingu. O trabalho da trinca é dos mais eficientes, sendo que entre eles, João Miguel se destaca pela imersão no seu personagem, um dos bons momentos de um ator brasileiro nesses últimos anos. Xingu é um filme para ficar marcado positivamente na recente filmografia nacional. Se em 2011, a maioria dos exemplares tupiniquins foi de qualidade duvidosa, a safra de 2012, até agora, parece ter sido escolhida com mais esmero. Aqui, temos um filme que merece ser prestigiado e de preferência na tela grande do cinema.



4 Comente Aqui! :

  • Amanda Aouad disse...

    O maior mérito de Cao Hamburger aqui foi contar uma história sem ser didático, nem ficar esfregando mensagens ecológicas ou a favor dos índios. Ele nos envolveu com a boa trama, bons personagens e um encadeamento instigante.

  • Mauricio disse...

    Talvez gostasse do filme, se não tivesse lido o livro 3 vezes anteriormente; elenco de primeira, produção impecável, direção idem. Entretanto, a história real virou ficção, novela, estória mal contada, as vezes mentirosa, misturada com fatos reais. E cá entre nós, terminar o filme com um dos Villas Boas indo pro mato com uma índia, foi muito ruim.

 
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