Crítica: Jovens Adultos (Young Adult)

Amadurecer não é nenhum pouco fácil. Principalmente para quem teve uma vida intensa, cheia de regalias no passado. Bajulada, adorada, admirada, assim era Mavis Gary (Charlize Theron) na época da escola. A rainha local tinha tudo e todos aos seus pés. O topo da pirâmide social estudantil. Mavis terminou o colégio e resolveu ir para a cidade grande, fez faculdade e assim transformou-se em uma escritora de livros para “jovens adultos”. Literatura barata, é verdade, mas que lhe garantia uma vida bem razoável, a realização de seu sonho juvenil. O cotidiano da metrópole lhe fez encobrir ou mesmo esquecer sua vida de gloria na sua antiga cidade. Mesmo aparentemente satisfeita, ela sabia que algo lhe faltava. O sexo casual pouco a satisfazia e o seu alento acabava sendo em um copo de bebida. Então, eis que Mavis recebe em sua caixa de e-mail uma foto da recém nascida filha do seu amor adolescente, Buddy Slade (Patrick Wilson). 

Aquilo seria o suficiente para que a moça coloque o fato como ponto de partida para a recuperação do que seria a sua felicidade plena, aquela que viveu décadas atrás ao lado desse rapaz, hoje um homem feito e bem casado. O que Mavis resolve fazer? O inusitado, voltar à cidade natal e assim tomar para si o homem que seria seu por direito. O que ela ainda não percebeu ou não quer perceber é que a sua cidade não é mais a mesma, nem as pessoas que acompanharam seus anos dourados. Eles não mais a reconhecem como a princesinha que era. Todos amadureceram e envelheceram. Aquela popularidade catártica de outros tempos não mais os interessam. Para Mavis não, ela se recusa ou mesmo não aceita essa evolução. Mantém seus hábitos juvenis e continua a encher a cara de bebida de maneira preocupante. O único que parece realmente entende-la é o nerd que ela repudiava, Matt Freehauf (Patton Oswaltt), um homem que sofreu todas as agruras (incluindo surras) que alguém pode passar na juventude, o que lhe rendeu infelizmente uma deficiência física. 

Apesar de um quadro dramático estabelecido, não esperem algo extremamente triste de Jovens Adultos, a nova parceira entre a escritora Diablo Cody e o diretor Jason Reitman. Sim, a melancolia esta presente, mas são tantas as situações constrangedoras que Mavis protagoniza que é inevitável não se divertir com a maioria delas. A realização de Reitman mescla com eficiência essas nuances dramáticas e cômicas, o que rende uma boa “dramédia”. Claro que o texto de Cody é acido o suficiente para delinear o proposto pela direção. Enquanto a escolha dos atores é perfeita para a obra engrenar. A Mavis de Charlize Theron é desprezível demais, mas por outro lado, é difícil não se identificar com ela em alguns aspectos ou mesmo torcer por uma redenção sua. A parceria que mantêm com o personagem de Patton Oswaltt é outro dos pontos altos do filme. Eles são totalmente diferentes, mas as considerações de frustrações acabam por aproximá-los, fazendo assim um elo distopico que impulsiona a narrativa e a curiosidade do espectador em saber até onde aquela epopéia mesquinha e vergonhosa pode ir.

Jovens Adultos é uma obra que dialoga bem sobre essa vontade que é recorrente, de querer voltar aos tempos mais áureos e menos preocupados, em uma vida que não lhe pertence mais.  É mais do que compreensível, assim como entendemos Mavis, mas pode ser totalmente estranho ou preocupante para quem superou e amadureceu com mais facilidade. Alguns momentos podem e devem parecer surreais, mas diria que na verdade são hiper-realisticos, de tão reais que podem parecer absurdos. Nesse ponto, que a obra acaba por cativar completamente o espectador. Porque faz perceber que muitas vezes para se amadurecer é necessário todo um martírio reprovável. E na verdade, quem não passou ou viu alguém passar por algo semelhante?