Crítica: Halloween - A Noite do Terror (trilha sonora)

22 de março de 2012 0 Comente Aqui!

Antes de ser reinventado como um feriado cristão, o Halloween era uma comemoração pagã: o dia dos mortos celta. Conhecido como Samhain, o 31 de Outubro era quando espíritos vingativos voltavam para assombrar os Druidas bretões e irlandeses. Nessa ocasião, eles se reuniam para agradecer ao Deus Sol pela boa colheita e preparavam-se para o inverno. Se as coisas não foram bem no verão, sacrifícios de animais (e às vezes humanos) era a ordem do dia.

O Dia das Bruxas é o ponto de partida para Halloween – A Noite do Terror (1978). O filme é guiado pela caçada desesperada ao psicopata Michael Myers, que aterrorizará a pequena Haddonfield depois de escapar do hospital psiquiátrico. Quem conduz a busca é o Dr. Sam Loomis (Donald Pleasance), o psiquiatra de Michael. Apavorado, Loomis conta ao xerife da cidade que detrás do rosto impassível e dos olhos negros do seu paciente ("olhos do diabo," diz) se esconde o mal absoluto. Loomis sabe que Myers vai matar de novo e fará tudo para impedi-lo.

Halloween sacudiu a indústria cinematográfica americana como poucos filmes de terror antes dele. Uma parte do seu legado foi criar, da noite pro dia, o subgênero conhecido como splatter ou slasher films, onde um grupo de jovens de moral duvidosa são brutalmente chacinados por um personagem com distúrbios mentais. Outra foi marcar a estréia no cinema da atriz Jamie Lee Curtis, no papel de “Laurie Strode”. (Curiosamente, Jamie é filha de Janet Leigh, a “Marion Krane” de Psicose, sabidamente uma das inspirações para Halloween.)

John Carpenter, o diretor do filme, usou um recurso inovador em Halloween: o stalker POV, ou stalker point of view. No stalker POV, a câmera é manipulada de uma forma que simula o ponto de vista de uma pessoa observando outra de longe, escondida. Até os movimentos repentinos da câmera simulam os movimentos bruscos de um voyeur, escondendo-se atrás de obstáculos físicos, com receio de ser visto. Esse ponto de vista da câmera gera grande ansiedade, porque sabemos que alguém está lá – mas não sabemos onde ele está, como ele é ou qual a sua intenção.

Além do stalker POV, o outro destaque de Halloween é a sua trilha. Composta em três dias com um orçamento miúdo, a música do filme é o reflexo de Michael Myers – fria, impetuosa e implacável. Seu tema central se tornou um clássico do cinema, tão reconhecível quanto os temas de Tubarão (1975) ou da série Guerra nas Estrelas.

O centro da peça, lógico, é o tema de Michael Myers. Como não mencionar seu inesquecível tema central, um exercício minimalista de piano e sintetizador, num estranho 5/4? A música erudita ou popular raramente sai do compasso 4/4, e isso é uma das razões do estranhamento imediato que sentimos ao ouvirmos o tema de Halloween. Carpenter comenta que a inspiração desse tema veio de um exercício 5/4 em bongôs ensinado por seu pai, George, um professor doutorado em música.

Num capítulo do livro The Cinema of John Carpenter: the Technique of Terror (2004), os musicólogos Miguel Mera e David Burnand apontaram que a trilha de Halloween é pontuada por “gritos” sintetizados. Inclusive, por causa de seu tom agudo, essas notas tocadas no sintetizador evocariam gritos femininos. Carpenter chamava esses “gritinhos” de cattle-prod, sons específicos para assustar a audiência.

Além de Laurie e Michael, a música é o outro grande personagem do Halloween. Carpenter conta que uma vez mostrou o filme, sem trilha e efeitos sonoros, para alguns executivos da 20th Century Fox. Ninguém ficou assustado. Seis meses depois, ele fez a mesma coisa, agora com a trilha. Todos amaram o filme.

Halloween foi feito por US$ 300 mil e rendeu 55 milhões. Por muitos anos foi o filme de produção independente mais bem-sucedido da história, até o lançamento de A Bruxa de Blair (1999), superada depois por Atividade Paranormal (2007). O sucesso inesperado de Halloween foi, provavelmente, a garantia para algumas boas produções de John Carpenter: A Bruma Assassina (1980), Fuga de Nova Iorque (1981), O Enigma do Outro Mundo (1982) e Starman - O Homem das Estrelas (1984). Carpenter, que costuma fazer a música dos seus filmes, deixou de herança para o mundo do cinema uma coleção de temas fantasmagóricos - e memoráveis. Eles serviram de inspiração para a música de Resident Evil (2002), Tron: O Legado (2010) e compositores como Hans Zimmer, o de Cavaleiro das Trevas (2008) e A Origem (2010).

Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.

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