CRÍTICA DE LIVRO: CANTO DOS MALDITOS

29 de fevereiro de 2012 9 Comente Aqui!

canto dos malditos
austregésilo carrano bueno – bicho sem cabeça?


Como definir a insanidade? Como dizer que o sujeito A ou B é louco, como o Coringa do Batman? Em que momentos devemos invadir a privacidade de alguém para assumir o comando da vida de alguém? Existe diálogo e respeito entre pais e filhos? Entre familiares existe carinho real? Essas são algumas das muitas e relevantes questões que Canto dos Malditos nos leva a refletir.

Por amar literatura e, principalmente quadrinhos, e presenciar as terríveis adaptações que normalmente são feitas no cinema, costumo ser contra “adequações”. Em minha visão, raras são as que funcionam adequadamente quando são transportadas para outro estilo artístico, principalmente a sétima arte. As adequações não transmitem a força da obra original e o resultado final é, normalmente, simplório e apenas um marco para ganhar dinheiro. E digo o mesmo quando a arte, em película, vai aos quadrinhos ou livros. Não funciona. Como diz o mestre Alan Moore: “Cada arte é única. Eu faço quadrinhos não cinema, apesar de gostar de sétima arte”.

Mas, como tudo na vida, as regras são feitas para serem quebradas, Canto dos Malditos, de Austregésilo Carrano Bueno (no cinema O Bicho de Sete Cabeças, com Rodrigo Santoro) é uma prova de que, às vezes, funciona. Mas, meu foco será o livro, apesar de ter amado o longa-metragem (primeiro filme que Santoro provou ser ator e não mais um rostinho na tela), e sua trilha sonora.

O livro de Carrano é uma obra vigorosa, detalhista e, ao mesmo tempo cruel. Atroz por funcionar como uma denúncia a situação dos hospitais psiquiátricos no Brasil. Impossível não se sentir incomodado, cutucado por esse livro que traça um triste quadro de abandono, tanto dos hospitais quanto de pacientes.

O autor, um ex-paciente desses hospitais psiquiátricos, relata com força e coragem, o horror de eletrochoques e das doses, cavalares de medicamento. Uma descrição feita com maestria, dor, e realidade. Dizem que alguns filmes funcionam como um soco no estômago do público. Ao apresentar a realidade disfarçada ou escondida, o que podemos dizer desse pequeno documentário histórico? Um livro que obriga o leitor a refletir, pensar e questionar tudo o que foi relatado. Mas, não pense que o livro relata o caso do autor e que o leitor não se pegará pensando em qual a relação de diálogo existente entre pais e filhos, mães e filhas. No final, percebemos que Contos Malditos é um retrato cruel e dolorido da sociedade moderna em que as conversas entre familiares, em 90% das vezes, são trocadas por bens materiais e o respeito ao próximo está cada vez mais distante.....uma pena.

Depois do livro, assista à bela atuação de Santoro e se delicie com a trilha sonora. A música de Zeca Baleiro representa exatamente as dores e a falta de diálogo real entre algumas relações familiares. Vamos escutar sentir e refletir.

 
 

Bicho de Sete Cabeças
Não dá pé
Não tem pé, nem cabeça
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito
Não tem nem talvez ter feito
O que você me fez desapareça
Cresça e desapareça...
Não tem dó no peito
Não tem jeito
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem pé, não tem cabeça
Não dá pé, não é direito
Não foi nada
Eu não fiz nada disso
E você fez
Um Bicho de Sete Cabeças...
Não dá pé
Não tem pé, nem cabeça
Não tem ninguém que mereça (Não tem ninguém que mereça)
Não tem coração que esqueça (Não tem pé, não tem cabeça)
Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito (Não dá pé, não é direito)
Não tem nem talvez ter feito (Não foi nada, eu não fiz nada disso)
O que você me fez desapareça (E você fez um)
Cresça e desapareça... (Bicho de Sete Cabeças)
Bicho de Sete Cabeças!
Bicho de Sete Cabeças!
Bicho de Sete Cabeças!

9 Comente Aqui! :

  • Anônimo disse...

    Quando fazemos aldo por amor, o resultado é sempre maravilhoso! Parabéns Renato pelo seu trabalho, estou com muito de orgulho de ser sua amiga!!!!!Bjs

  • Milena Cherubim disse...

    Olha, sou meio arredia com filmes brazucas.... (ok, podem me matar rsrs), mas esse livro é denso e uma leitura nada fácil pra mim, será um bom desafio. Quando digo nada fácil, não é por ser de rápida leitura não... digo por causa do tema. Quando eu tinha 13 anos fui para uma 'casa de repouso' e o que vi, me machucou profundamente. Não gosto de 'casas de repouso', hospitais psiquiátricos, acredito que nossos idosos são pessoas que temos que cuidar até o último suspiro. ter uma conversa hoje para a maioria é difícil... eu tento ao máximo ser amiga da minha filha, mostro o mundo real e o que será necessário fazer para se mudar alguma coisa. Esse livro será um mega desafio pra mim, sei que vou chorar horrores, mas vou ler. Obrigada por me apresentar uma obra de nossa literatura que não conhecia! beijosss

  • Clau Sartorato disse...

    Concordo com vc Renato, não sou fã de adaptações, a impressão que dá, é que o diretor "roubou" a ideia de alguém. Quanto ao filme, realmente vale muito a pena ser visto, gostei muito.

  • Ro Soares disse...

    Dá para perceber que você escreve por amor a essa arte!! parabéns descrição muito boa tanto do filme quanto do livro, também não gosto muito de adaptações feitas a partir de livros, sempre deixam a desejar. esse parece ser bom vou ver depois te falo.
    um abç. Renato.

  • Guará Matos disse...

    Eu trabalhei em hospitais psiquiálgicos e sei bem o que é isso. A crueldade disfarçada de tratamento, o ser humano submetido ao mais baixo dos atendimentos.

    mais uma vez, amigo, você acertou em cheio.

  • Renata disse...

    Olá Renato, mais um belo texto que nos faz refletir sobre muitas questões de nossas vidas e sociedade...parabéns!!! Fiquei com vontade de ler e assistir o filme novamente.
    Abraços e sucesso!!
    Renata

 
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