Crítica: Otôto (Ototo, Japão, 2010)

7 de julho de 2011 0 Comente Aqui!

O título Ototo é uma homenagem do diretor Yoji Yamada ao filme de mesmo título de 1960 dirigido por Kon Ichikawa, um drama sobre vida familiar com foco em um casal de irmãos. Yamada, que tem 79 anos e já dirigiu mais de quarenta filmes, tem uma clara preferência por histórias em tempos passados e por samurais. Ocasionalmente, o cineasta decide presentear o público com um drama contemporâneo, que é o caso de Ototo, seu primeiro filme nos últimos dez anos que se passa na atualidade.

Ototo (Japão, 2010) se inicia com os preparativos para o casamento de Kuharo (Yu Aoi). Ao se casar, ela deixará a casa onde mora com a mãe, Ginko (Sayuri Yoshinaga, uma musa do diretor que já trabalhou com ele em muitos filmes), e a avó paterna. Seu pai morreu quando ela era criança, deixando aos cuidados da mãe a pequena farmácia do casal, no subúrbio de Tóquio onde vivem. O noivo de Kuharo é de uma família rica e o casamento será uma grande festa. A família se preocupa com que Tetsuro (Tsurubei Shofukutei, um ator proveniente da clássica comédia japonesa rakugo), o irmão mais novo de Ginko, não compareça à festa por ele, anos antes, ter arruinado uma festa de família em razão do seu alcoolismo. Porém, Tetsuro consegue chegar à festa e, como esperado, envergonha a noiva e sua família com o seu comportamento.

Conhecido entre seus familiares como uma ovelha negra, Tetsuro é um ator fracassado sem trabalho fixo, alcoólatra e viciado em jogos de azar. Quando o pai de Kuharo faleceu, ele se mudou de Osaka, cidade natal da família, para Tókio e passou a morar com sua irmã mais velha e a sobrinha. Isso fez com que o laço entre os irmãos se tornasse bastante forte, não sendo abalado nem mesmo pelos anos de sumiço – terminado no casamento de Kuharo – de Testsuro após uma briga familiar em decorrência do seu comportamento extravagante.
O filme retrata a relação entre os dois irmãos de maneira bastante comovente. Yamada abusa do melodrama, mas nunca de forma excessiva. Enquanto o resto da família busca se distanciar da “ovelha negra”, Ginko simplesmente não o consegue. Ela sabe que Tetsuro não é feliz e não escolheu a vida que leva, mas também sabe que ele poderia mudar as circunstâncias se quisesse. Porém, Tetsuro não é forte o suficiente para isso. Existe em Ginko uma profunda gratidão ao irmão por ele ter escolhido o nome da sua filha, a pedido do seu marido, e a lembrança dos anos em que viveram juntos, quando ela cuidava dele quase como um filho.

O passar do tempo, que é bem percebido através das estações do ano, é poético neste filme, em que chuvas vêm junto com tempos difíceis e situações desconfortantes ocorrem no igualmente desconfortável calor do verão. A linguagem corporal é bastante utilizada pelo diretor, e executada com o comedimento e emoção necessários por Yoshinaga e Shofukutei, sendo responsável por toda a carga dramática de algumas cenas do filme. A relação entre os irmãos, ao invés de incestuosa, como no Ototo de Ichikawa, é inocente e carregada de sentimentalismo, neste melodrama que não tem medo do exagero e consegue assim conquistar o espectador.

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