Crítica: Lola (Filipinas/França, 2009)

28 de julho de 2011 1 Comente Aqui!

Lola (Filipinas/França, 2009) gira em torno de um crime: um jovem morre esfaqueado por um assaltante que pretendia roubar o seu telefone celular. O diretor Brillante Mendoza explora as repercussões do crime nas famílias da vítima e do agressor: enquanto Lola Sepa (Anita Linda) tenta conseguir dinheiro para fazer o enterro do neto, Lola Puring (Rustica Carpio) cuida do seu, que está na cadeia esperando julgamento, levando comida e procurando uma forma de livrar o rapaz da pena. Os acontecimentos na vida de uma avó sempre têm impacto na vida da outra.

Puring, que possui uma banca em que vende verduras numa feira e tem em casa um filho doente que depende dela até para se alimentar, está convencida de que a única maneira de tirar o neto da cadeia é pagando a Sepa para que a acusação contra o seu neto seja retirada, uma vez que não tem como conseguir um advogado. O diretor busca expôr desta maneira o burocrático e ineficiente sistema criminal e judicial filipino; exposição que culmina na cena em que Sepa se urina por não encontrar um banheiro disponível no prédio do tribunal, representação maior do descaso que a justiça do país tem com a população que dela necessita.

A avó do acusado é indiferente se as acusações contra o seu neto são verdadeiras ou não, sua única preocupação é livrá-lo do desconforto da prisão. Puring procura, então, as maneiras mais diversas para conseguir dinheiro: dá golpes nos clientes da feira, penhora seus eletrônicos, recorre a uma agiota dando a sua casa como garantia e viaja ao campo para pedir dinheiro a parentes, de onde sai com apenas dois patos e comida. O desespero pode ser visto em cada gesto e expressão facial da senhora. Porém, Sepa, inicialmente, se mostra indiferente às tentativas de compra da retirada da acusação contra Mateo (Ketchup Eusebio), neto de Puring.

Apesar de limitadas fisicamente pela idade (as duas possuem mais de oitenta anos), as atuações das atrizes que representam as avós são magistrais. Suas expressões faciais, juntamente com a dificuldade de deslocamento, são responsáveis por toda a grande carga emotiva que o filme passa ao expectador. Além de ótimas atuações, o Lola merece crédito pela escolha da locação: o bairro popular em que Sepa mora com a filha é perenemente alagado, fazendo com que seja preciso um barco para chegar à sua casa, garantindo as mais belas cenas do filme, como a do funeral do seu neto, em que vários barcos seguem em procissão.

Filmado em apenas dez dias do mês de junho, estação chuvosa nas Filipinas, a chuva constantemente presente intensifica a percepção que o espectador tem de como é difícil a vida dos personagens: além de se deslocarem pelas movimentadas ruas de Manila, onde a multidão disputa espaço com vendedores e veículos, eles possuem os pés permanentemente encharcados. A câmera na mão está sempre acompanhando de muito perto os movimentos dos personagens, passando a sensação de que sempre se está seguindo alguém. Esta movimentação garante que mesmo as cenas que poderiam ser tediosas não o sejam. Estes movimentos de câmera e a iluminação sempre natural utilizada pelo diretor são características típicas do seu trabalho.

Formado em publicidade e com anos de experiência na produção e direção de clipes musicais e vídeos publicitários, Brillante Mendoza iniciou a sua carreira como diretor de cinema apenas em 2005, aos 45 anos. Em poucos anos como diretor, vários de seus filmes - que têm como característica comum a evidenciação de problemas sociais e políticos do seu país e de questões morais enfrentadas pelos filipinos - entraram na seleção oficial do Festival de Cannes.

Após ser premiado como melhor diretor em Cannes por Kinatay (2009), o diretor conseguiu, com recursos majoritariamente franceses, filmar Lola, que foi feito praticamente com a mesma equipe do filme anterior. Lola foi realizado com um orçamento modesto, mas ainda assim Mendoza não abriu mão da atuação de duas consagradas atrizes filipinas, intérpretes das avós. Definido pelo diretor - que pretendia falar da vida das pessoas idosas, menos percebidas na sociedade - como “um tributo às avós do mundo”, "lola" significa avó em tagalo, língua falada no filme e também por grande parte da população filipina. Entre vários prêmios e indicações em festivais, Lola concorreu ao Leão de Ouro do Festival de Veneza e ganhou o prêmio do júri do Festival de Filmes de Miami.

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