Crítica: Ex Drummer (Bélgica, 2007)

26 de maio de 2011 2 Comente Aqui!

Ex Drummer se inicia com uma cena em rewind de três dos protagonistas. “Recurso estilístico” – pensamos – “o diretor escolheu abrir o filme com uma cena de impacto, como a abertura de um programa de televisão”. Mera impressão. No seu primeiro filme em longa metragem, o diretor Koen Mortier escolheu causar impacto em toda a duração do filme.

O roteiro de Ex Drummer é a adaptação feita por Mortier do romance homônimo de Herman Brusselmans. O filme conta a história de três músicos de Oostende, cidade litorânea belga. Eles decidem, após ler uma entrevista em que ele afirmava tocar bateria, convidar Dries, um bem-sucedido escritor local, para integrar o seu grupo de rock. A intenção é montar uma banda para uma única apresentação, em uma batalha de bandas que ocorrerá em uma cidade próxima.

Os músicos têm em comum o fato de possuírem limitações físicas. Além disso, cada um deles é caracterizado por uma série de peculiaridades. Koen, o vocalista do grupo, tem a língua presa e um modo pouco ortodoxo de se relacionar com mulheres: espancamentos e estupros são atitudes costumeiras em sua vida. Jan é o baixista, que possui um dos braços paralisado, é gay e mora com os pais, com quem estabelece relações doentias. O guitarrista Ivan possui perda auditiva; é o único casado, com uma mulher tão viciada em cocaína quanto ele, e mora em um apartamento incrivelmente sujo e mal-cuidado com a esposa e a filha pequena. Provenientes da classe operária, nenhum deles (ou seus familiares) trabalha, vivendo, então, do auxílio financeiro da assistência social.

Dries vê uma oportunidade neste convite de integrar a banda: sair do seu mundo impecavelmente organizado e se divertir observando o freak show proporcionado pelos músicos e as suas vidas. Essa observação se dá de maneira muito cômoda para Dries, que não se envolve realmente com os demais personagens, porém possui grande influência sobre eles. Consciente dessa influência, ele manipula os demais músicos, afetando inclusive as suas vidas amorosas e familiares. Quando cansado do mundo bizarro, ele sempre pode voltar ao seu apartamento moderno e com uma bela vista, onde a sua namorada o espera com amigas para uma noite de sexo.

Anteriormente a Ex Drummer, Koen Mortier fez carreira como diretor de comerciais e videoclipes. Não surpreende, portanto, que, visualmente, o filme pareça um comercial de 90 minutos. Mas não homogêneo, pelo contrário: são usados diversos truques de câmera, estilos de edição, exposição, iluminação e direção ao longo do filme. Além das já citadas cenas em rewind, a cena do ménage à trois (com sexo explícito), em que o diretor utilizou e efeito de tripla exposição, é também bastante marcante pelo efeito utilizado.

A impressão que se tem ao ver o filme é que Mortier quis fazer uma compilação de tudo o que é politicamente incorreto. Sua intenção é chocar, expor tudo o que não se espera ver em um filme, incomodando a audiência o máximo possível. É um trabalho ofensivo, transgressivo, explícito e violento. Mesmo para os espectadores acostumados com os filmes mais chocantes. O diretor tem também a capacidade de colocar o público frente a histórias de pessoas que são, cada uma à sua maneira, miseráveis e ainda assim conseguir despertar o interesse sincero da audiência por estas histórias, sem fazer com que o espectador se sinta superior ou tenha pena dos personagens. Conclui-se, portanto, que Mortier alcançou o seu objetivo neste filme, que é uma comédia de um humor tão negro que, por mais que se entenda as “piadas”, não se consegue rir à custa de tal sofrimento alheio.

2 Comente Aqui! :

  • renatocinema disse...

    Gostei da temática do filme: Chocar.
    Aprecio, as vezes, o politicamente incorreto.

    Porém, preciso assistir o filme para tentar ver se o resultado final ficou bom.

    Lembrei, vagamente, do filme Sitcom Nossa Linda Família, onde o choque também faz parte da idéia.

    Mas, sou fã de certo humor negro.

    Muito feliz pela dica, não conhecia essa produção.

  • Jefão Marginau disse...

    Gostei da observação do filme em? acho até que falaram pouco, deveriam analisar mais profundamente as peripécias que o diretor fez, tipo deixar Koen de cabeça pra baixo dentro de sua própria casa... muito bacana!

 
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